Vovó

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A sabedoria do mendigo

A sabedoria do mendigo
Serapião era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da cidade. Ao
seu lado, o fiel escudeiro, um vira lata marrom com manchas brancas, que
atendia pelo nome de Malhado. Serapião não pedia dinheiro. Aceitava
sempre um pão, uma banana, um pedaço de bolo ou um almoço feito com
sobras de comida dos mais abastados.

Quando suas roupas estavam imprestáveis, logo era socorrido por alguma
alma caridosa. Mudava a apresentação e era alvo de brincadeiras.

Serapião era conhecido como um homem bom, que perdera a razão, a
família, os amigos e até a identidade. Não bebia bebida alcoólica,
estava sempre tranqüilo, mesmo quando não havia recebido nem um pouco de
comida.
Dizia sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa e, sempre na hora
que Deus determinava, alguém lhe estendia uma porção de alimentos.

Serapião agradecia e rogava a Deus pela pessoa que o ajudava. Tudo que
ganhava, dava primeiro para o Malhado, que paciente comia e ficava a
esperar por mais um pouco. Não tinha onde dormir; onde anoiteciam, lá
dormiam. Quando chovia, procuravam abrigo embaixo da ponte do ribeirão
Bonito e, ali o mendigo ficava a meditar, com um olhar perdido no
horizonte. Aquela figura me deixava sempre pensativo, pois eu não
entendia aquela vida vegetativa, sem progresso, sem esperança e sem um
futuro promissor que Serapião levava.
Certo dia, com a desculpa de lhe oferecer umas bananas fui bater um papo
com o velho Serapião. Iniciei a conversa falando do Malhado, perguntei
pela idade dele, o que Serapião não sabia. Dizia não ter idéia, pois se
encontraram certo dia quando ambos andavam à toa pelas ruas.
Nossa amizade começou com um pedaço de pão -disse o mendigo. Ele parecia
estar faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço e ele agradeceu
abanando o rabo, e daí não me largou mais. Ele me ajuda muito e eu
retribuo essa ajuda sempre que posso. Como vocês se ajudam? Perguntei.

Ele me vigia quando estou dormindo; ninguém pode chegar perto que ele
late e ataca. Também quando ele dorme, eu fico vigiando para que outro
cachorro não o incomode. Continuando a conversa, perguntei:
Serapião, você tem algum desejo de vida?
Sim, respondeu ele - tenho vontade de comer um cachorro quente, daqueles
que a Zezé vende ali na esquina. Só isso? Indaguei. É, no momento é só
isso que eu desejo. Pois bem, vou satisfazer agora esse grande desejo.
Saí e comprei um cachorro quente para o mendigo. Voltei e lhe entreguei.
Ele arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a dádiva e em seguida
tirou a salsicha, deu para o Malhado, e comeu o pão com os temperos.
Não entendi aquele gesto do mendigo, pois imaginava ser a salsicha o
melhor pedaço.

Por que você deu para o Malhado logo a salsicha? - Perguntei intrigado.
Ele, com a boca cheia, respondeu: Para o melhor amigo, o melhor pedaço. E
continuou comendo, alegre e satisfeito.
Despedi-me do Serapião, passei a mão na cabeça do Malhado e saí pensando com meus botões:
Aprendi alguma coisa hoje. Como é bom ter amigos. Pessoas em quem
possamos confiar. E saber reconhecer neles o seu real valor, agindo em
consonância. Por outro lado, é bom ser amigo de alguém e ter a
satisfação de ser reconhecido como tal.

Jamais esquecerei a sabedoria daquele eremita:
"PARA O MELHOR AMIGO, O MELHOR PEDAÇO"
AUTOR DESCONHECIDO

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Sou Mãe,Avó, amo meus filhos, meus netos, Amo minha família. Devemos buscar amigos como buscamos livros. Não exija, que sejam muitos, mas que sejam fiéis, não exija que tenha boa profissão, mas sim bom coração. Deixe só as doces lembranças, e faça um lugarzinho para acolher as belezas que a vida te reserva. AMIGO (A) Não temos em nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo, temos Deus em nossas vidas é por isso que podemos todas as coisas Naquele que nos fortalece. Beijos!!